«Enquanto nós, humanos, continuarmos a acreditar que esperança não é uma palavra vã, os intelectuais manter-se-ão úteis em todas as sociedades.»
Ramin Jahanbegloo
"Há duas maneiras de ver o termo: intelectual visto como snob, ou intelectual como alguém que pensa. No passado, o primeiro intelectual público foi Zola. "J'accuse" foi um texto que se tornou célebre justamente por ser uma tomada de posição ...pública sobre o caso Dreyfus em que um francês estava preso e condenado por fortes razões anti-semitas. Zola assumiu uma posição nesse texto que desencadeou imensas adesões posteriormente Esse é o momento inicial do escritor ou artista que se torna o intelectual público dentro da dicotomia que vigorava - trabalhador manual/ trabalhador intelectual. Essa figura desapareceu. Não hoje há ninguém que tenha hoje um estatuto semelhante. Em Portugal alguns aproximam-se, como Eduardo Lourenço e Boaventura. Mas não têm o impacto que Sartre tinha em França e lá não há ninguém que se aproxime nem de perto. Daí que o termo tenha perdido o seu sentido original e mesmo a sua função e tenha passado a ter uma conotação negativa: snob, convencido, arrogante, vaidoso, etc. A verdade é que alguns são-no. Mas não me parece que daqui se possa tirar a conclusão que são todos inúteis e que as ideias não são importantes. Pelo contrário. A actual situação foi definida pela escola de Chicago e pelos os discípulos do mestre Milton Friedman, professor de economia cujas ideias são fundamentalmente as da liberalização dos mercados do mundo. Foi um intelectual? Não parece é porque um economista não corresponde à ideia feita. Mas lá que teve influencia teve. Fukuyama será? Mas o intelectual na sua acepção original era uma espécie de depositário de uma consciência crítica colectiva e essa figura é que foi perdendo peso e capacidade de ser ouvido como figura de referência, defensor de valores, capaz de problematizar problemas da sociedade justamente para além da política de curto prazo e da economia de largo lucro. Na minha opinião faz falta gente assim. Precisamos de gente assim. Uma frase não é suficiente porque nunca se explica a si própria bem, nisso SA tem razão. Um dos últimos intelectuais públicos em França Pierre Bourdieu dizia que não ia à televisão porque se não lhe davam pelo menos 5 minutos não conseguia explicar nem sequer uma ideia. Quantos é que tem direito hoje a falar 5 minutos sem serem interrompidos por perguntas muitas vezes estúpidas ou reveladoras de incompreensão? É preciso ler livros inteiros o que dá uma trabalheira mas, para mim, confesso, é um prazer. Quando deixa de ser um prazer para-se. Um dos direitos dos leitores é pousar o livro que estão a ler e começar outro."
António Pinho Vargas
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